O Banco Central divulgou nessa terça-feira, 7 de fevereiro, a ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, nos dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro.
Na ocasião a taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira, foi revisada e mantida em 13,75% ao ano, como vem desde agosto de 2022.
E no documento divulgado nessa terça-feira, o BC destacou que a taxa básica deve ser mantida em um patamar alto por mais tempo do que o esperado inicialmente, em função dos riscos fiscais que ainda podem ser observados.
Essa informação desagradou alguns políticos, incluindo o presidente Lula que já vem criticando a atuação do Banco Central e pedindo pela redução dos juros.
O que diz a ata do Copom?
O Copom segue alertando o mercado a respeito das incertezas do cenário fiscal e declarou que pode manter os juros elevados por mais tempo do que o previsto inicialmente para que a inflação possa ser controlada.
Como pontos positivos, o órgão cita o combate à covid como um fator impactante. Também foi citado o inverno mais ameno registrado na Europa e um redução no crescimento dos Estados Unidos, o que desacelera um pouco a economia global e a estabiliza.
Outro ponto positivo é a normalização nas cadeias de suprimento e acomodação nos preços das commodities, finalmente, cerca de um ano após o início da guerra entre Russia e Ucrânia.
Por outro lado, todos os países estão cautelosos, a confiança não é muito grande nesse momento, o mercado de trabalho, apesar de ter voltado a crescer em 2022, pós-pandemia, está desacelerando e, sobretudo, a inflação ainda está alta:
as expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 5,7% e 3,9%, respectivamente".
Diante desse cenário todo, o Comite disse ter analisado um cenário alternativo, com juros estáveis ao logo dos próximos meses, ao invés da esperada redução que se tinha previsto inicialmente, e que
em tal cenário, as projeções de inflação situam-se em 5,5% para 2023, 3,1% para o terceiro trimestre de 2024 e 2,8% para 2024.
E assim,
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego".
- A ata completa pode ser lida clicando aqui.
Lula quer a redução dos juros
Nessa segunda-feira, dia 6, antes mesmo da publicação da ata do Copom, Lula já havia feito críticas ao Banco Central e ao patamar em que está a Taxa Selic atualmente. Sua fala ocorreu durante o evento de posse de Aloizio Mercadante como presidente do BNDES.
É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juro e a explicação que eles deram à sociedade brasileira. O problema não é de banco independente, não é de banco ligado ao governo. O problema é que este País tem uma cultura de viver com os juros altos", disse Lula.
Mas essa não foi a primeira vez que Lula fez comentários desse tipo. O presidente também foi bastante crítico, especialmente com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em uma entrevista concedida à RedeTV! na semana passada.
Na ocasião Lula disse que vai esperar o fim do mandato de Campos Neto para avaliar a independência do Banco Central. Há alguns anos, quando Lula foi presidente pela primeira vez, a direção do BC era composta por indicações políticas e por isso, as decisões sempre seguiam a linha de pensamento e atuação do presidente da República.
Atualmente, porém, os nomes indicados para o órgão precisam ser aprovados pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e o funcionamento do órgão está mais baseado em ciência econômica, ou seja, as decisões levam menos em consideração os aspectos políticos. É isso que Lula pretende rever.
O mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro de 2024, conforme o decreto de nomeação publicado no Diário Oficial da União em abril de 2021. O documento determina que a presidência do BC tenha mandato de 4 anos não coincidentes com o mandato de presidedente.
Haddad se manifesta sobre a ata
Em resposta à publicação da ata e também às falas de Lula, o ministro da Economia, Fernando Haddad se manifestou nessa terça-feira, dia 7, defendendo a harmonia entre a política fiscal e a política monetária.
Para que todos possam entender, a política fiscal é executada pelo governo federal. Ela trata das contas públicas, ou seja, da arrecadação de impostos e dos gastos públicos. Já a política monetária é responsabilidade do BC. É ela que cuida da definição de juros para conter a inflação.
Vamos, como eu disse já várias vezes, harmonizar a política fiscal com a política monetária, uma ajuda a outra. A política fiscal ajuda a política monetária, mas não podemos nos esquecer que a política monetária ajuda a política fiscal", disse Haddad.
Em relação ao alerta dado pela ata, de que os juros devem ser mantidos por mais tempo elevados por causa das incertezas do cenário fiscal, Haddad disse que isso ainda é um reflexo do legado deixado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O que o Banco Central disse, creio que faz mais referência ao legado do governo anterior do que as providências que estão sendo tomadas por este governo [...] existe realmente uma situação fiscal que inspira cuidados, mas isso é uma herança que nós temos que administrar", defendeu Haddad.
Ainda assim, Haddad disse que a nota do Copom poderia ter sido "um pouco mais generosa" com o governo diante das medidas já anunciadas para melhorar as contas públicas e a economia do Brasil, e que seria impossível resolver em 30 dias de governo o rombo de R$ 300 bilhões que foi deixado pelo governo anterior.
Qual é a aperspectiva para a Selic?
A Selic é, oficialmente, o instrumento por meio do qual o BC controla a inflação - em 2022, o IPCA fechou em 5,79%, acima da meta (3,5%) e da margem de tolerância (1,5 ponto percentual).
Só que a Selic influencia em todas as demais taxas de juros do país e se ela está em 13,75%, todas as taxas de juros estão altas, incluindo as de financiamentos, por exemplo.
Enquanto que para a parcela mais rica da população uma taxa de juros mais alta significa bons rendimentos em aplicações financeiras, para a parcela mais pobre, significa mais dificuldade para alcançar objetivos, conseguir dinheiro, etc.
Por isso, Lula que tem uma política mais voltada para as classes baixas, critica a alta da Selic e pede pela suaa redução.
Vale destacar, porém, que independentemente das criticas de Lula já há uma expectativa de redução na taxa para o médio prazo. Todas as semanas o Banco Central divulga um relatório chamado de Boletim Focus, onde é apresentada a expectativa do mercado financeiro para os principais índices econômicos.
E segundo o Focus publicado nessa segunda-feira, 6 de fevereiro, a expectativa do mercado é de que a Selic sofra uma queda até o fim de 2023, ainda que não muito significativa.
Como visto acima, hoje ela está em 13,75% e ela deve ser reduzida para 12,50% até dezembro desse ano. Para 2024, a redução podoe ser um pouco maior, chegando a 9,75%. Até 2026, espera-se que ela chegue aos 8,50%.
Isso, porém, ainda é bastante considerando que em 2020 a taxa chegou aos 2% ao ano, o menor patamar da história até então.
Essa previsões, porém, ainda podem e provavelmente vão mudar muitas vezes até o fim de 2023, conforme os acontecimentos do país e do mundo forem afetando a economia.
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