Depois de dois dias reunido para discutir a economia brasileira e, especialmente, a taxa básica de juros do país, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central divulgou seu veredito no início da noite dessa quarta-feira, 26 de outubro: a Selic vai permanecer em 13,75% ao ano.
Dessa forma, o orgão opta por manter a estabilidade que já vinha sendo prevista pelo mercado financeiro. A expectativa é, inclusive, que o ano de 2022 termine com a Selic nesse mesmo patamar, ou seja, sem novas elevações. Até o fim do ano, há mais um encontro do Copom, previsto para dezembro.
Segundo o relatório prévio divulgado ao fim da reunião, a decisão tem como base o cenário externo ainda adverso e volátil, um crescimento do PIB, porém em ritmo menos acelerado segundo os últimos relatórios e inflação ainda considerada alta.
A Selic foi elevada para 13,75% no início de agosto desse ano, foi mantida assim em setembro e volta a ser mantida agora. Antes disso, a Selic passou por 12 elevações, desde o início de 2021. Na época, a taxa estava em 2%, o patamar mais baixo da história. Esses aumentos tiveram como objetivo tentar controlar a inflação do país que passou dos 10% em 2021.
Relatório Copom
Veja abaixo o que disse o Copom:
Em sua 250ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 13,75% a.a.
A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
- O ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com revisões negativas para o crescimento global e aumento da volatilidade nos ativos financeiros. O ambiente inflacionário segue pressionado, enquanto o processo de normalização da política monetária nos países avançados prossegue na direção de taxas restritivas, tornando as condições financeiras mais apertadas. O Comitê notou também a maior sensibilidade dos mercados a fundamentos fiscais, inclusive em países avançados. O Comitê avalia que ambos os desenvolvimentos inspiram maior atenção para países emergentes;
- Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom sinalizou ritmo mais moderado de crescimento;
- Apesar da queda recente concentrada nos itens voláteis e afetados por medidas tributárias, a inflação ao consumidor continua elevada;
- As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
- As expectativas de inflação para 2022, 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 5,6%, 4,9% e 3,5%, respectivamente; e
- No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,25*, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro de 2022 e "amarela" em dezembro de 2023 e de 2024. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 5,8% para 2022, 4,8% para 2023 e 2,9% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de -3,9% para 2022, 9,4% para 2023 e 3,8% para 2024. O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora os seus impactos secundários. Nesse horizonte, referente ao segundo trimestre de 2024, a projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,2%. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos; e (iii) um hiato do produto mais estreito que o utilizado atualmente pelo Comitê em seu cenário de referência, em particular no mercado de trabalho. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (iii) a manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em 2023. O Comitê avalia que a conjuntura, ainda particularmente incerta e volátil, requer serenidade na avaliação dos riscos.
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.
O que é a Taxa Selic
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia.
Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto - comprando e vendendo títulos públicos federais - para manter a taxa de juros próxima do valor definido na reunião.
Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Desse modo, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica. Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
Inflação volta a aparecer
Depois de dois meses de deflação, nessa semana o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que em outubro a inflação voltou a aparecer. Os dados são da pesquisa IPCA-15, que mostra a prévia da inflação do mês. O IPCA completo será divulgado no dia 10 de novembro.
O relatório prévio mostrou que houve uma alta de 0,16% nos preços nesse mês. O recuo no preço dos combustíveis (-6,14%) impactou o resultado, influenciando numa queda geral do grupo Transportes, porém, o grupo Saúde e também o Vestuário tiveram altas, assim como a Alimentação e a Habitação.
Isso preocupa os especialistas, é claro, mas a expectativa é de que as reduções ainda aconteçam no futuro, já que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.
A meta da inflação para 2022 era de 3,5% - podendo variar até 5% - e no acumulado de 12 meses ela está em 7,17%. Apesar de estar bem acima do que esperava-se, o índice vem diminuindo nos últimos meses.
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