O processo de mineração de Bitcoins é altamente complexo. Ele exige um número grande de máquinas, com altas capacidades de processamento, trabalhando 24 horas por dia e com a crescente valorização da criptomoeda, a mineração também ficou mais acentuada (é preciso minerar cada vez mais). Isso vem causando um grande aumento no consumo de energia elétrica e, em algumas regiões do planeta as emissões de poluentes vêm atingindo níveis recordes.

Uma dessas regiões é a da China, onde acontecem 80% de todas as transações de Bitcoin do mundo e 65% das minerações. A matriz energética do país é composta por 40% de usinas termoelétricas alimentadas principalmente com carvão, o que torna a energia mais barata e atrai mineradores de Bitcoin. Porém, por outro lado, o uso do carvão torna o processo muito agressivo ao meio ambiente, pois muito CO2 (carbono) é emitido.

Alguns estudos já realizados apontam que, se a extração da moeda digital não for refreada, a China sozinha poderá atingir um pico de gasto de energia de 296 terawatts-hora (TWh) e emitir 130 milhões de toneladas de CO2 até 2024.

Mineração aumentou consumo de energia no mundo

Apesar de agravado na Ásia, esse não é um problema só daquela região. Na verdade, em todo o mundo ao longo de 2020 houve um aumento de quase 40% no gasto energético em função da criptomoeda, segundo dados da Universidade de Cambridge.

Essa mesma universidade, aliás, por meio de seu Centro de Finanças Alternativas (CCAF), criou um índice de consumo estimado em terawatts por hora (TWh) da atividade de mineração de Bitcoin e, por meio dele é possível ter uma noção em tempo real do gasto energético mundial. Os dados são alarmantes.

Na tarde desta sexta-feira, 9 de abril, estimava-se um gasto médio de 138.43 TWh para minerar a criptomoeda. Para se ter uma ideia do que isso representa, os atuais níveis de consumo de energia para mineração do Bitcoin superam a média anual de alguns países inteiros, como a Holanda, por exemplo, cuja média é de 108,8 TWh.

A quantidade de eletricidade consumida pela rede Bitcoin em um ano poderia abastecer todas as chaleiras usadas para ferver água por 31 anos no Reino Unido e por 4,6 anos em toda a Europa. Créditos: Reprodução/Universidade de Cambridge
A quantidade de eletricidade consumida pela rede Bitcoin em um ano poderia abastecer todas as chaleiras usadas para ferver água por 31 anos no Reino Unido e por 4,6 anos em toda a Europa. Créditos: Reprodução/Universidade de Cambridge

Mineração mais cara

O que torna a mineração mais cara, como já apontamos no início dessa matéria, é justamente a valorização do Bitcoin. Ao longo de todo o ano de 2020 o bitcoin acumulou uma alta de 300% e só em 2021, essa alta já é de cerca de 80%. E a mineração acompanha essa valorização.

Por quê? Simplesmente porque é necessário minerar mais para se chegar ao valor da moeda, que hoje é de US$ 58 mil dólares ou R$ 331 mil reais.

Essa alta da mineração e sua relação com a alta da moeda pode ser observada a partir dos gráficos disponibilizados pela Universidade de Cambridge.

Em 1º de janeiro de 2020, por exemplo, a moeda custava US$ 7 mil dólares e o gasto médio de energia era de 72,2 TWh. Em 31 de dezembro de 2020, o Bitcoin valia US$ 28 mil dólares e o consumo de energia já era de 100,67 TWh, o que representa um aumento de 38,8% ao longo do ano.

Gráfico mostra o aumento no consumo de energia elétrica, por causa da mineração de Bitcoin. Créditos: Reprodução/Universidade de Cambridge
Gráfico mostra o aumento no consumo de energia elétrica, por causa da mineração de Bitcoin. Créditos: Reprodução/Universidade de Cambridge

Iniciativas

Recentemente, o governo chinês comunicou que pretende encerrar todas as instalações de mineração de criptomoedas em determinadas regiões (como no distrito da Mongólia Interior) para tentar reduzir os altos gastos de energia e de emissão de poluentes. A tarefa, porém, não será fácil, porque em todo o mundo, incluindo a China, há muitos ambientes clandestinos de mineração da moeda.

Além disso, a China se comprometeu em reduzir suas emissões de carbono. O plano é diminuir pela metade a poluição atmosférica até 2030 e atingir a neutralidade de CO2 até 2060. Para isso, só na região da Mongólia Interior, ainda em 2021, o Departamento de Indústria e Energia pretende diminuir o consumo de eletricidade em 3%.

A quantidade de eletrecidade anual utilizada pela rede Bitcoin poderia satisfazer a necessidade de energia da Universidade de Cambridge por 787 anos. Créditos: Reprodução/Universidade de Cabridge
A quantidade de eletrecidade anual utilizada pela rede Bitcoin poderia satisfazer a necessidade de energia da Universidade de Cambridge por 787 anos. Créditos: Reprodução/Universidade de Cabridge