Em 2022, são 24 as empresas que desistiram junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de fazer oferta pública inicial (IPO), operação necessária para a abertura de capital e listagem na bolsa de valores. O procedimento envolve a primeira venda de ações a investidores interessados e consequente captação de recursos pelas companhias, que passam a ser ativas no mercado financeiro, com novos projetos e obrigações.

O recuo de entradas de empresas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) chama atenção e é reflexo de tensão nos mercados nos últimos meses. De outro lado, em 2021 mais de 40 companhias estrearam na B3, segundo os registros da CVM, entre IPO, reorganização societária e ofertas restritas.

Agora em 2022, empresas como a Corsan, CSN Cimentos e BRK Ambiental que movimentaram o mercado com o protocolo do pedido de IPO na CVM, anunciaram a desistência da operação. Outras companhias também suspenderam ofertas públicas nesse ano - veja abaixo a lista completa.

Corsan: TCE-RS barra IPO e Governo do RS não entrará com recurso

A Companhia Riograndense de Saneamento, a estatal Corsan, anunciou no último dia 13 de julho que seu acionista controlador, que é o governo do estado do Rio Grande do Sul, resolveu não dar continuidade ao IPO e ao processo de privatização, após interferência do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), por enquanto.

Essa é a segunda vez que o IPO da Corsan é impedido. Em janeiro desse ano, o governo gaúcho já havia anunciado um adiamento da oferta. Já no dia 27 de maio houve a retomada da operação, segundo os registros.

Desta vez, o documento enviado ao mercado em julho avisa que o Tribunal de Contas do RS determinou que o Estado e a Corsan se abstenham de dar prosseguimento ao processo de registro de oferta, devido à falta de promoção de fundamentadas correções na modelagem econômico-financeira da oferta pública inicial de ações (IPO) da companhia.

Após receber a decisão do TCE-RS, que solicita novas informações sobre a oferta da companhia, o governo gaúcho decidiu ser mais vantajoso não apresentar recurso contra a medida, pois isso ou até mesmo o próprio envio de novos esclarecimentos inviabilizaria o lançamento do IPO na "janela" de mercado atual.

Governo do RS planeja privatizar a Corsan ainda em 2022

Mesmo decidindo pela suspensão do IPO nesse momento, o Estado do RS ainda reafirma sua convicção quanto à necessidade de privatização da Corsan, principalmente agora com a alta demanda de recursos para investimentos a fim de enquadrar a companhia no Novo Marco Legal do Saneamento, estabelecido por lei federal em 2020.

"Destarte, a desestatização busca evitar prejuízos ao erário, na condição de acionista controlador, e viabilizar o plano de investimentos que trará enormes benefícios à sociedade gaúcha, notadamente por meio das externalidades ligadas à saúde, meio ambiente, economia, turismo, setor imobiliário e qualidade de vida e dignidade social, entre outras", explica a companhia.

Diante dos fatos, a Cosan disse ainda que o governo gaúcho também ordenou que seja iniciada de imediato a reestruturação do projeto de desestatização, incluindo a perspectiva de alienação integral das ações da Corsan de propriedade do Estado, de modo a buscar a conclusão da privatização da companhia até o final de 2022.

- Veja na íntegra o comunicado sobre a suspensão do IPO da Corsan em julho.

Empresas que desistiram de fazer IPO

A lista da CVM mostra todas as empresas que protocolaram o cancelamento de oferta pública inicial de ações entre janeiro a julho de 2022. Vale mencionar que, assim como a Corsan, é possível ainda que algumas companhias retomem as operações posteriormente.

IPO na CVM
Empresa Dia da desistência
CIA RIOGRANDENSE DE SANEAMENTO (Corsan) 15/07/2022
CSN CIMENTOS S.A. 17/03/2022
VIX LOGÍSTICA S.A. 15/03/2022
BMRV PARTICIPAÇÕES S.A. 02/03/2022
JFL HOLDING S.A. 02/03/2022
CAPTALYS COMPANHIA DE CRÉDITO 21/03/2022
SELF IT ACADEMIAS HOLDING S.A. 07/03/2022
CERRADINHO BIOENERGIA S.A. 03/02/2022
DATORA PARTICIPAÇÕES E SERVIÇOS S/A 01/02/2022
MONTE RODOVIAS S.A. 06/01/2022
AMMO VAREJO S.A. 06/01/2022
BLUEFIT ACADEMIAS DE GINÁSTICA E PARTICIPAÇÕES S.A. 27/01/2022 (Indeferida)
MADERO INDÚSTRIA E COMÉRCIO S.A. 24/01/2022
DORI ALIMENTOS S.A. 06/01/2022
ENVIRONMENTAL ESG PARTICIPAÇÕES S.A. 06/01/2022
VERO S.A. 10/01/2022
ISH TECH S.A. 24/01/2022
COTY BRASIL COMÉRCIO S.A. 17/01/2022
CLARANET TECHNOLOGY S.A. 13/01/2022
FULWOOD S.A. 18/01/2022
CENCOSUD BRASIL COMERCIAL S.A. 14/01/2022
INTERPLAYERS SOLUÇÕES INTEGRADAS SA 24/01/2022
HOLDING VERZANI & SANDRINI S.A. 28/01/2022
CANTU STORE S.A. 18/01/2022
Créditos: CVM/Poupar Dinheiro

O que é IPO, afinal?

IPO é a sigla de Initial Public Offering, ou "oferta pública inicial" em português. Trata-se de uma operação formal que permite a primeira venda de ações de uma empresa no mercado financeiro. Então, após o IPO, essas ações da empresa começam a ser negociadas na bolsa de valores, que no caso do Brasil é a B3. O IPO pode contar com dois tipos de venda de ações:

  • Distribuição Primária: onde a empresa emite novas ações e, assim, já que as ações pertenciam a ela, todos os recursos levantados no IPO vão para o caixa da companhia, que pode usá-los em projetos de crescimento, por exemplo;
  • Distribuição Secundária: onde há a oferta pública inicial (venda) de ações que já existem, ou seja, cotas da empresa que estejam sob titularidade do empreendedor e/ou de seu atual acionista, ambos chamados de "acionistas vendedores" no IPO;
  • Distribuição Primária e Secundária de ações: neste caso, no mesmo IPO são feitas as distribuições primária e secundária de ações, dessa maneira, parte do dinheiro levantado vai para o caixa da empresa e outra parte é destinada aos acionistas vendedores.