O Ibovespa encerrou a quinta-feira, 21 de outubro em 107 mil pontos. No dia, a queda registrada foi de 2,75%. Esse resultado foi uma reação do mercado financeiro à falas do ministro da Economia, Paulo Guedes, que sinalizou a necessidade de o governo estourar o teto de gastos para cobrir despesas com o novo programa social, o Auxilio Brasil.
Para agravar ainda mais a situação, na tarde de ontem, o presidente Jair Bolsonaro também fez declarações prometendo aos caminhoneiros brasileiros um auxílio do governo para compensar o aumento no preço do diesel. Em razão disso, por volta das 15 horas, a Bolsa que já vinha na casa dos 108 mil pontos, chegou a cair para 105,9 mil. Depois houve uma leve recuperação e ela fechou em 107.526 mil.
Porém, novos acontecimentos na manhã dessa sexta-feita, 22 de outubro, fizeram com que a bolsa abrisse mais uma vez em queda e por volta das 11h48 o índice chegou a 103.305 mil pontos, o menor nível do ano, com queda de 4,11%.
No início da tarde, o Ibovespa havia registrado uma leve recuperação voltando para a faixa dos 104 mil pontos e, por volta das 14h40 já estava em 106 mil pontos novamente, faixa em que permanecia por volta das 16 horas.
Clima tenso após pedido de exoneração de servidores
Toda a queda da manhã dessa sexta-feira, dia 22, se deu porque técnicos do ministério da Economia pediram exoneração de seus cargos depois que a PEC dos Precatórios foi aprovada em comissão na Câmara. Saíram o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt.
Além disso, havia especulações, segundo o G1, de que o ministro Paulo Guedes também pudesse ser substituído. O presidente Jair Bolsonaro já estaria sondando novos nomes para o cargo. Informações divulgadas pela Folha de S.Paulo também deram conta de que o clima no alto escalão do governo estaria pior do que nunca e que até mesmo outros ministros estariam querendo ver Guedes pelas costas.
No início da tarde porém, fontes ligadas ao ministério falaram à Reuters que Guedes não pediu demissão e que Bolsonaro segue apoiando sua permanencia no governo. Uma das fontes teria destacado, inclusive, que o ministro "sabe sua responsabilidade" e que sua permanencia é tida como importante para que a economia não saia do trilho.
Porém, o ministro cancelou a agenda que ele tinha para essa sexta-feira, que incluia participação em evento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Segundo a assessoria do ministério, apenas despachos internos foram mantidos.
Por volta das 14 horas, novas informações divulgadas apontaram que o ministro se reuniria na tarde de hoje com o presidente Jair Bolsonaro. Segundo o Estadão, a ideia seria mostrar apoio ao ministro.
E isso, de fato, se confirmou. Por volta das 15h10, Bolsonaro e Guedes fizeram um pronunciamento juntos confirmando a permanência do ministro no cargo "Tenho confiança absoluta em Guedes. Faz trabalho brilhante no ministério da Economia em meio às dificuldades da pandemia", declarou o presidente. "Não queremos botar em risco nada na Economia."
Aprovação da PEC dos Precatórios
Alvo de muitas polêmicas nas últimas semanas, a comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou, por 23 votos contra 11, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o pagamento de precatórios, permitindo descontos e reajuste pela taxa Selic.
Atualmente, a fórmula considera o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apurado entre julho de um ano e junho do ano seguinte. Com a mudança, o IPCA paasa a ser apurado entre janeiro e dezembro. A votação durou mais de 7 horas e foram rejeitados oito destaques apresentados à proposta. o texto segue agora para o Plenário da Câmara dos Deputados.
O texto aprovado é o substitutivo do relator, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), à PEC 23/21, do Poder Executivo. Além das mudanças no pagamento de precatórios, o substitutivo muda o cálculo de reajuste do teto de gastos e permite contornar a regra de ouro por meio da lei orçamentária.
O relator calcula que o novo modelo de pagamento de precatórios deve permitir uma folga de quase R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões no Orçamento do ano que vem, além de outros R$ 39 bilhões por causa de mudanças nas regras fiscais.
Dos recursos gerados pela PEC, R$ 24 bilhões devem ser usados para o reajuste de despesas da União indexadas pela inflação. Hugo Motta observou que o texto também será fundamental para garantir o pagamento do Auxílio Brasil, com a previsão de R$ 400 para atender 17 milhões de famílias no ano que vem.
A mudança parece simples mas, na avaliação de técnicos do Congresso, a alteração na fórmula e o limite de pagamento dos precatórios abrem cerca de R$ 84 bilhões para despesas em 2022, ano eleitoral. Na prática, o governo conseguiria essa margem para contornar o teto de gastos.
A proposta ainda deve garantir R$ 11 bilhões para compra de vacinas em 2022. O pagamento de precatórios, estimado em R$ 54,7 bilhões neste ano, pode subir para R$ 89,1 bilhões no ano que vem caso a PEC não seja aprovada pelo Congresso.
É o fundo do poço?
A princípio, após as falas de Bolsonaro e Guedes, o pior já passou. Porém, a situação ainda não está de todo resolvida. Apesar de a PEC dos Precatórios ter sido aprovada pela comissão da Câmara ela ainda será votada no plenário e esse promete ser um momento de muitas discussões novamente. Se se confirmar, essa situação pode abalar o mercado financeiro mais uma vez.
Além disso, várias casas de análise pioraram suas perspectivas para crescimento econômico, inflação, juros e dívida pública para 2021, incluindo Morgan Stanley, Credit Suisse e UBS, o que pode impactar no Ibovespa.
"Com a confiança no governo abalada, investidores deverão se manter na defensiva, resultando em bolsa para baixo, juros para cima e câmbio pressionado", afirmou em nota o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.
A esperança recai, porém, na temporada de resultados trimestrais, referente ao terceiro trimestre de 2021, que inicia nessa sexta-feira, dia 22, e que pode movimentar positivamente o mercado nas próximas semanas.
Dólar fecha em R$ 5,66
E se o Ibovespa fechou em queda, como já é tradição, o dólar fechou em alta. Ao longo do dia de ontem a alta acumulou 1,90% e a moeda norte-americana encerrou o dia valendo R$ 5,66, o maior preço em seis meses.
E nessa sexta-feria, dia 22, ele continua a se elevar na medida em que o Ibovespa cai. Por volta das 11h50 a cotação já estava em R$ 5,71 numa alta de mais 1,14%.
Com informações Agência Brasil e Agência Câmara de Notícias.
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