Uma instabilidade nas taxas de títulos do Tesouro Direto fez com que a Secretaria do Tesouro Nacional suspendesse as negociações de títulos prefixados e atrelados à inflação - Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA. As primeiras suspensões ocorreram na tarde de ontem e seguiram na manhã dessa sexta-feira, dia 11.
Quem acessou o site do Tesouro Direto encontra liberados apenas os títulos do Tesouro Selic, ou seja, aqueles atrelados à taxa básica de juros da economia:
Ontem as negociações do Tesouro Selic também já haviam sido mantidas. Isso se deve a uma resolução tomada pela Secretaria do Tesouro Nacional após reclamações de investidores.
O que acontece é que esses papeis são muito utilizados como reserva de emergência e por isso, devem estar sempre disponíveis para que os investidores façam resgates se desejarem.
Negociações voltaram
Na tarde dessa sexta, porém, as negociações voltaram a ser liberadas e estavam acontecendo normalmente. No entanto, novas suspensões são são completamente descartadas caso a Secretaria do Tesouro Nacional perceba a necessidade.
Mas afinal, o que aconteceu?
O que está acontecendo são suspensões preventivas. Sempre que há fortes oscilações nas taxas de juros, o Tesouro Nacional suspende as negociações por medida de segurança, inclusive dos investidores. O processo é parecido com o Circuit Breaker das bolsas de valores, ou seja, pausas que ocorrem para "acalmar os ânimos" quando há oscilações muito fortes.
No caso do Tesouro Direto ontem e hoje, houve uma alta muito forte nas taxas de juros dos títulos. Por isso, a pausa nas negociações. Essa não foi a primeira vez que isso aconteceu. Durante a pandemia, por exemplo, houve diversos momentos em que as operações do Tesouro foram "seguradas".
Política e divulgação do IBGE impactaram
A principal causa para que essas oscilações tenham acontecido foi a divulgação da inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O IBGE divulgou o relatório na manhã de ontem e mostrou que depois de três meses de deflação, a inflação voltou a ser alta em outubro.
Na verdade, uma pequena volta da inflação até já era esperada porque o IPCA-15, que mostra a prévia da inflação já havia ficado em 0,16%. Mas a alta dos preços acabou sendo maior do que o esperado: ela ficou em 0,59%. E isso contribuiu para que os juros do Tesouro Direto subissem.
Além disso, segundo especialistas, a fala do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, feita na manhã de ontem também teve sua contribuição. Lula destacou em seu discurso que pretende direcionar a economia para o social e também fez críticas ao teto de gastos. Segundo ele, o Brasil não pode manter esse teto enquanto houver pessoas passando fome.
Suas falas não foram diferentes daquelas que ele costuma fazer e daquelas que já havia feito em campanha e seu direcionamento político também não chega a ser diferente daquele que ele já teve em seus governos anteriores, ou seja, não houve novidade, porém, ainda assim, o mercado costuma reagir às suas falas com desconfiança. Há um aumento no receio de calote na dívida pública e por isso os juros também sobem.
Lula chegou a comentar essas oscilações dizendo a jornalistas, em Brasília, o seguinte:
O mercado fica nervoso à toa, nunca vi um mercado tão sensível quanto o nosso. Engraçado que esse mercado não ficou nervoso com quatro anos do Bolsonaro".
Mas além disso tudo, o mercado também está de olho na PEC de transição. Bilionária, ela vai buscar acomodar as promessas de campanha do governo petista. O relator-geral do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), afirmou que a equipe do presidente eleito Lula deve apresentar o documento até esta sexta.
Em função desses fatos, o dia é considerado como de alto risco fiscal. A bolsa de valores possivelmente também sentirá oscilações, como já aconteceu ontem, quando encerrou o dia em queda de 3,35%, em 109.775 pontos.
Taxas mais altas desde 2016
Com essa disparada nas taxas dos títulos públicos os títulos títulos prefixados voltaram a girar em torno de taxas de rentabilidade de 13% ao ano, enquanto todos os títulos indexados à inflação (Tesouro IPCA+) voltaram a oferecer juros reais acima de 6% ao ano.
Acessando os gráficos dos históricos de taxas do Tesouro Direto é possível ver que desde 2016, as taxas não estavam tão altas. A última vez que o IPCA+ 2045 pagou 6,27%, por exemplo, foi no dia 7 de abril de 2016.
Depois disso, no dia 26 de julho de 2022, o mesmo título até chegou a oscilar e chegar nesse patamar novamente, mas foi um período de tempo bem curto, caindo novamente pouco depois.
Na época, essa alta se deu em função da PEC dos Benefícios, quando foi anunciado o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e dos auxílio para taxistas e caminhoneiros, além do pagamento de 100% do vale-gás a cada dois mêses.
Os títulos e preços praticados na manhã de ontem, antes da suspensão, eram os seguintes:
Título | Rentabilidade anual | Investimento mínimo | Preço Unitário | Vencimento |
---|---|---|---|---|
TESOURO PREFIXADO 2025 | 12,66% | R$ 31,01 | R$ 775,31 | 01/01/2025 |
TESOURO PREFIXADO 2029 | 12,88% | R$ 33,36 | R$ 476,69 | 01/01/2029 |
TESOURO PREFIXADO com juros semestrais 2033 | 12,98% | R$ 35,11 | R$ 877,78 | 01/01/2033 |
TESOURO SELIC 2025 | SELIC + 0,0375% | R$ 123,95 | R$ 12.395,92 | 01/03/2025 |
TESOURO SELIC 2027 | SELIC + 0,1423% | R$ 123,31 | R$ 12.331,30 | 01/03/2027 |
TESOURO IPCA+ 2026 | IPCA + 6,05% | R$ 31,80 | R$ 3.180,90 | 15/08/2026 |
TESOURO IPCA+ 2035 | IPCA + 6,24% | R$ 37,30 | R$ 1.865,34 | 15/05/2035 |
TESOURO IPCA+ 2045 | IPCA + 6,27% | R$ 30,40 | R$ 1.013,57 | 15/05/2045 |
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2032 | IPCA + 6,21% | R$ 39,67 | R$ 3.967,69 | 15/08/2032 |
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2040 | IPCA + 6,16% | R$ 39,63 | R$ 3.963,05 | 15/08/2040 |
Já nessa sexta, após o retorno das negociações, o quadro de preços e taxas estava um poucoo mais baixo, mas ainda assim, alto. Veja só:
O que é o Tesouro Direto?
Para quem não sabe, o Tesouro Direto é um título público emitido pelo Tesouro Nacional e funciona como um tipo de empréstimo que o governo faz com a população. Depois, você recebe o valor investido com juros na data de vencimento, que é definida quando você faz a compra do título.
A remuneração dessas aplicações pode ser prefixada, pós-fixada ou híbrida, ou seja, existem várias opções de títulos e alguns deles permitem que você saiba exatamente quanto vai ganhar no momento de fazer o resgate, mas há outros que deixam esse retorno em aberto, a depender de outros fatores como a inflação ou Taxa Selic.
Esse é um investimento muito procurado, tanto para quem está começando quanto para quem busca segurança, já que essa é uma das aplicações de risco mais baixo que há. Além disso, com pouco dinheiro já é possível começar a investir. Atualmente, por exemplo, a partir de R$ 30,96 já é possível fazer uma aplicação.
Modalidades do Tesouro Direto
Como dito acima, existem diferentes modalidades de títulos e cada uma delas possui características específicas. Abaixo vamos apresentar cada um deles. Lembramos que é importante você conhecer as alternativas para que possa escolher aquela que mais se assemelha aos seus objetivos de investimento.
Tesouro Prefixado
Esta modalidade está sendo dividida atualmente em três títulos:
- Tesouro Prefixado 2025
- Tesouro Prefixado 2029
- Tesouro Prefixado 2033 (com juros semestrais)
Esse tipo de investimento tem, como todos eles, suas vantagens e desvantagens. Entre as vantagens está a garantia de que o investidor vai receber aquela quantia determinada na data de vencimento do título e não há nada que possa mudar isso.
Entre as desvantagens, porém, está o fato de que em um cenário de economia muito instável e de inflação que vinha crescente, ainda que desacelerando um pouco, investir em um título cuja rentabilidade é invariável pode se tornar pouco vantajoso.
Tesouro Pós-fixado, atrelado à inflação (IPCA)
Outra modalidade disponível é o Tesouro IPCA, que é pós-fixado, atrelado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país. Esse título é chamado de pós-fixado pois o investidor não sabe exatamente quanto ele irá ganhar, já que isso depende de quanto será a inflação do país no período do investimento.
Entre as principais vantagens desse tipo de investimento está o fato de que o investidor sempre terá uma cobertura em relação à inflação, nunca vai receber menos do que ela. E de quebra ainda vai ganhar um pouquinho a mais, dependendo do título escolhido e do tempo que deixar a aplicação no Tesouro Nacional.
Por outro lado, é preciso saber lidar com a variabilidade da inflação que, em alguns período sobe mais e em outros menos. Vale lembrar ainda que no Tesouro IPCA também há opções de investimentos que oferecem juros trimestrais. É o caso das aplicações de mais longo prazo, com vencimento para 2032 e 2040.
Tesouro Selic
E a terceira modalidade de investimentos no Tesouro Direto é o Tesouro Selic, que como o nome já dá a entender, está atrelado à Taxa Selic. De todos, como também é possível imaginar, essa é a aplicação mais afetada pelas recentes elevações da taxa básica de juros do Brasil.
As vantagens e desvantagens desse tipo de investimento são mais ou menos as mesmas das aplicações atreladas ao IPCA, nesse caso porém, se a inflação estiver muito fora de controle, o investidor pode não ter um rendimento que cubra a elevação de preços. Porém, nesta modalidade é possível resgatar o valor investido antes do vencimento, desta forma, não há riscos de perder tanto dinheiro.
Como investir no Tesouro Direto?
Existem duas principais formas de se investir no Tesoro Direto:
- Por meio do site do Tesouro Direto;
- Por meio de uma corretora de investimentos.
No primeiro caso, basta acessar o site do Tesouro, escolher a modalidade de título conforme sua preferência e objetivos e dar sequência ao processo de simulação e investimento. É bastante simples e intuitivo o processo.
No segundo caso, é preciso ter uma conta em uma corretora de investimentos, as mesma que intermediam o investimento em outras ativos como as ações. Por meio dela é possível buscar as opções de investimento no Tesouro Direto e iniciar a aplicação.
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