Foi aprovado no Plenário do Senado, nessa quinta-feira, 17 de junho, a medida provisória que permite a desestatização da Eletrobras (MP 1.031/2021). No entanto, como os Senadores fizeram alterações no texto, ele volta para a Câmara do Deputados para nova votação.
A MP que está tramitando no congresso como um projeto de lei de conversão (PLV 7/2021), devido às alterações feitas pelos parlamentares, tem até a próxima terça-feira, dia 22 de junho, para ser votada e aprovada ou perderá a validade. Se isso acontecer, o Governo Federal não poderá enviar uma nova MP com o mesmo tema nesse ano.
O debate no Senado
No Senado, a discussão sobre a proposta iniciou na quarta-feira, dia 16, mas acabou ficando para essa quinta, dia 17. Foram, ao total, nove horas de debates com a apresentação de três pareceres diferentes pelo relator, senador Marcos Rogério (DEM-RO).
Ainda assim, a MP polêmica dividiu muito as opiniões. De um lado, aqueles que argumentam a necessidade da privatização para que a empresa volte a investir e se tornar competitiva e de outro lado aqueles preocupados com aumento da tarifa de luz, diminuição do uso de fontes renováveis, etc.
No fim, a votação encerrou com 42 votos favoráveis, um a mais do que o mínimo necessário para a aprovação, e 37 contrários.
A proposta de privatização
O modelo de desestatização prevê a emissão de novas ações da Eletrobras, que serão vendidas no mercado sem a participação da União, resultando na perda do controle acionário de voto mantido atualmente por ela.
Cada acionista, individualmente, não poderá deter mais de 10% do capital votante da empresa. A União terá uma ação de classe especial (golden share) que lhe garante poder de veto em decisões da assembleia de acionistas.
A MP foi aprovada com dispositivos introduzidos pela Câmara dos Deputados que preveem que o governo federal patrocine, pelos próximos 15 anos, a contratação de usinas termelétricas a gás natural em regiões do interior do país onde hoje não existe esse fornecimento. O senador Marcos Rogério, porém, removeu a regra que tornava esse processo uma condição para o processo de desestatização.
Para o relator, a aprovação dessa medida provisória fortalecerá a Eletrobras e ao mesmo tempo manterá a União como um ator importante na gestão do setor elétrico. Ele afirmou que o modelo atual de controle estatal deixou estagnada a geração de energia, o que poderá ser revertido com a MP.
"A capitalização da Eletrobras devolve a ela o protagonismo no setor elétrico e a capacidade real de investimento para modernização do parque de geração e de transmissão, com foco, sobretudo, na redução do preço da energia", declarou Marcos Rogério.
Termelétricas
A previsão de contratação das termelétricas foi criticada pelos parlamentares ao longo da semana, sendo considerada um "jabuti" (um trecho inserido no texto que não tem relação com o propósito original da MP). Marcos Rogério argumentou que a incorporação dessas usinas terá um papel importante na estabilização e no barateamento do fornecimento de energia para o interior.
"O Brasil hoje tem que despachar térmicas a diesel, muito mais poluentes e caras, além de importar energia. Ela tem um custo médio de R$ 1 mil por megawatt/hora. Manter o modelo atual, sem o incremento dessa infraestrutura, da energia termelétrica movida a gás, significa ficar como estamos. Nós precisamos de energia firme. Os parques termelétricos garantem isso", disse ele.
O senador Eduardo Braga (MDB-AM), que foi ministro de Minas e Energia, também defendeu a proposta do uso das termelétricas, argumentando que o país é excessivamente dependente de hidrelétricas que vivem dificuldades para manter seus reservatórios, o que levaria a um cenário de desabastecimento ou de tarifas altas. Ele disse que a diferença entre a garantia física das hidrelétricas e a energia que efetivamente geram — o chamado risco hidrológico — hoje é custeada pelo consumidor.
"A carteira de investimento da Eletrobras hoje só tem um projeto: a usina nuclear de Angra dos Reis. Enquanto isso, nós estamos comprando e despachando energia. Os nossos reservatórios estão em crise não é de hoje. A Eletrobras voltou a dar lucro porque o povo brasileiro a indenizou para manter o pagamento do risco hidrológico", afirmou Braga.
As termelétricas deverão atender a estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No relatório final, Marcos Rogério acrescentou também as áreas da região Sudeste hoje atendidas pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e os estados sudestinos que são produtores de gás natural. Em suas últimas mudanças no texto, na manhã desta quinta, o relator também fez várias alterações nas cotas mínimas de energia das termelétricas destinadas a cada região, procurando acomodar os pedidos dos colegas.
Jean Paul Prates (PT-RN), líder da minoria no Senado, criticou essas negociações para construção do texto, que ele chamou de "barganhas" sem embasamento técnico.
"Nós estamos tratando disso como se fosse uma xepa energética. São megawatts subsidiados, que vão para a conta de luz do cidadão. Não é possível fazer isso sem estudo de impacto tarifário, sem estudo de viabilidade técnica e ambiental. Estamos falando de distorcer o planejamento energético, que é feito de forma decenal; as fontes competem pela tarifa mais baixa. Não podemos fazer a irresponsabilidade de fazer essa quermesse", destacou Prates.
Durante o dia, os senadores contrários à MP reiteraram que ela compromete a soberania nacional, ao tirar do controle do Estado a empresa que é a maior produtora e distribuidora de energia do país. Eles também argumentam que os termos do projeto criam "oligopólios setoriais" que vão reduzir a concorrência e encarecer as tarifas de luz. Para os parlamentares que se posicionaram a favor da desestatização, a proposta deve abrir caminho para mais investimentos em infraestrutura energética e para melhor atendimento a regiões remotas do país.
Ações ELET
Essa notícia da aprovação da MP pelo Senado era bastante esperada pelos economistas e especialistasm em investimentos, porque a expectativa é de que com a privatização as ações da Eletrobras (ELET3, ELET5 e ELET6) tenham um aumento de até 60%.
Aliás, já na manhã dessa sexta-feira, após a abertura do mercado, suas ações ordinárias (ELET3) já estavam registrando uma alta de quase 7% em relaçã ao preço do fim do dia de ontem. Por volta das 10h30 elas estavam custando R$ 47,39.
O momento da Eletrobrás, porém, é muito bom. Em janeiro de 2021 suas ações ordinárias chegavam a custar cerca de R$ 25,00. Não a toa elas entraram, nas últimas semanas, nas listas de recomendações de diversos especialistas.
Com informações Agência Senado.
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